Um video da EuroparlTV divulgado hoje, com entrevistas ao presidente desta Comissão Especial, o francês Alain Lamassoure (du Grupo parlamentar do PPE) e aos dois co-relatores - eu própria e o alemão Michael Theurer (do Grupo liberal ALDE):
http://europarltv.europa.eu/en/player.aspx?pid=d2f4786c-5f0f-45a0-87e8-a46800ed6f09
Deputada no Parlamento Europeu (PE) desde 2004, sou a coordenadora dos eleitos de toda a UE com assento no Grupo Parlamentar dos Socialistas e Democratas - S&D - na comissão parlamentar dos assuntos económicos e monetários (ECON). Sou, igualmente, co-relatora da Comissão Especial do PE TAXE encarregue de examinar as práticas fiscais agressivas dos países da União Europeia (UE) e de propor pistas para lhes pôr cobro. Todas as opiniões aqui expressas são estritamente pessoais.
Tuesday, 31 March 2015
Sunday, 29 March 2015
Wednesday, 25 March 2015
Dumping fiscal entre países que partilham o mesmo mercado e a mesma moeda é insuportável
Intervenção na sessão plenária do Parlamento
Europeu sobre fiscalidade - 25 MAR 2015
Senhor
comissário, senhores deputados,
No
meu país - Portugal - como em muitos outros, uma pequena empresa que tenha
conseguido sobreviver à crise, para além de dificilmente conseguir crédito, tem
de pagar 23% de imposto sobre os seus lucros.
Ao
mesmo tempo, várias grandes empresas multinacionais como a Amazon, a Starbucks
ou a Ikea, conseguem alegadamente pagar taxas de pouco mais de 1% jogando com as
diferenças fiscais entre os Estados da União Europeia (UE).
Segundo
exemplo: se o meu país não conseguir receitas fiscais suficientes para cobrir
despesas essenciais na educação, saúde ou apoio à velhice, corre o risco de
pagar uma multa que pode ir até meio por cento do PIB por incumprimento das
regras de governação económica.
No
entanto, 19 das 20 maiores empresas portuguesas - das que mais poderiam
contribuir com os seus impostos para equilibrar as contas públicas - optaram por transferir a sede para a Holanda ou para o Luxemburgo para beneficiarem
das vantagens fiscais que lhes são oferecidas.
Esta
prática de dumping fiscal entre países que partilham o mesmo mercado e a mesma
moeda torna-se insuportável aos cidadãos.
A
recente proposta da Comissão Europeia torna obrigatória a troca de informações entre
os países da UE sobre práticas de optimização fiscal.
É um
passo na direcção certa - que eu reconheço e agradeço ao comissário Moscovici - mas
é ainda assim insuficiente: há uma quantidade de medidas que têm de ser tomadas
de combate aos paraísos fiscais, de harmonização da base tributável para as
empresas, de reporte país a país. O esforço que se está a exigir aos cidadãos
exige também que tenhamos determinação no avanço desses dossiers.
O
Parlamento Europeu está totalmente determinado a contribuir para essa nova
modalidade de tratamento fiscal. E esperamos sinceramente, para além do apoio
da sociedade civil e da Comissão, que tenhamos o mesmo
espírito de convergência da parte do Conselho (de Ministros da UE). Os cidadãos é isso que exigem, e
é essa resposta que nós temos hoje de dar.
Novos instrumentos europeus de apoio ao investimento têm de dar prioridade ao acordo ibérico de interconexão eléctrica
Intervenção no debate na sessão plenária do Parlamento Europeu sobre as
conclusões do Conselho Europeu de 19 e 20 de Março 2015 no capítulo da energia
- 25/03/15
Muito obrigada
senhor Presidente,
Hoje não falarei da
Grécia, prefiro abordar a questão da energia esperando que o espírito europeu e
o bom senso imperem na resolução do problema grego.
A energia é uma
questão central para a União Europeia (UE) e ainda bem que a abordaram. Segundo
os dados da Comissão Europeia, 53% dessa energia é importada - o que equivale a
um gasto anual de 400 mil milhões de euros; o preço da energia na UE é 40% mais caro
do que nos Estados Unidos.
Portugal assim como
muitos outros países do Sul acreditaram na sinceridade da agenda alternativa,
da agenda europeia que coloca as energias solar, eólica, hídrica, das marés, no
centro das suas opções. Investiram fortemente para poderem adquirir vantagens
competitivas nessa área.
No entanto, quando
querem exportar, esses países esbarram não com uma montanha física porque essa a
tecnologia ultrapassa, mas com a montanha da falta de vontade política de
outros países e, sejamos claros, o peso de alguns lobbies poderosos como o
lobby do nuclear.
No passado dia 4 de Março
Portugal, Espanha e França assinaram um acordo - que foi hoje aqui invocado por
Jean-Claude Juncker - sob os seus auspícios para a interconexão de, pelo menos, 10%
das suas redes eléctricas, e para a criação das correspondentes redes físicas. O
objectivo de interconexão entre Portugal e Espanha é ainda maior: 11% em 2016 e
15% em 2020.
O último Conselho
Europeu reconheceu este acordo e disse que constitui "um passo bem vindo"
para alcançar o objectivo 20/20 da União Europeia.
Este objectivo tem
sido inúmeras vezes reafirmado pelos líderes europeus nos últimos anos, com
grandes efeitos de anúncio e nenhumas consequências práticas. É por isso que
espero que a Comissão Europeia e o Conselho de ministros (da UE) sejam agora tão
exigentes no cumprimento deste acordo como têm sido com outros bem menos justos
e bem menos importantes. E que os novos instrumentos de apoio ao investimento
os assumam como prioritários para que as promessas dêem finalmente origem a
acção concreta. Os europeus precisam disto. Muito obrigada.
Monday, 23 March 2015
Depois de Durão Barroso, uma nova esperança para a União Europeia?
Em pouco mais de 100 dias de mandato, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia (CE), deu mais sinais de perceber a gravidade da actual situação económica europeia do que o seu antecessor, Durão Barroso, durante os 10 anos em que ocupou o cargo.
Ainda que não seja
justo assacar a Barroso a culpa de tudo o que correu mal, a verdade é que,
enquanto presidente da instituição central da União Europeia (UE), teve um
papel preponderante no rumo desastroso dos acontecimentos.
O seu posicionamento
entre a inacção e a submissão aos governos da UE conduziu, na prática, a CE a
demitir-se da sua missão institucional no centro dos equilíbrios europeus. O poder
passou da esfera comunitária para a esfera intergovernamental, o que equivaleu
a aceitar a preponderância desmedida da Alemanha.
Hoje persiste a
dúvida sobre as determinantes da sua atitude: falta de coragem (ou de capacidade)
para se distanciar do poder de certos Estados, ou convergência ideológica total
com a agenda dominante? Porventura um misto das duas, embora diversos sintomas
militem a favor da última. De facto, a convicção com que o ex-presidente aderiu
e aplicou o discurso sancionatório do Norte levou o insuspeito Financial Times a
considerá-lo "um dos mais ferverosos defensores da consolidação orçamental"
(15/03/2013).
Politicamente,
Barroso não teve o cuidado de contrapor a agenda da CE à dos Estados,
reequilibrando-a, antes converteu a sua instituição no instrumento operacional
e tecnicamente legitimador da austeridade imposta aos cidadãos: em Portugal, em
finais de 2013, ainda insistia em que estaria “o caldo entornado” caso faltasse
determinação para cumprir o programa de ajustamento (Público, 6/10/2013).
Na Grécia, depois
das duas eleições de 2012 (em que o Syriza não formou Governo por muito pouco),
Barroso exigia "resultados, resultados, resultados" (FT e Les Echos,
27/07/2012).
Só o carácter ideológico
destas opções pode justificar a incapacidade de perceber, ou querer perceber, a
gravidade do que estava em causa. Nem sequer ao nível do discurso houve o cuidado
de manter objectivos mínimos de coesão na trajectória cada vez mais divergente
dos países mais vulneráveis, ou de reconhecer o sofrimento real provocado nos
países em ajustamento, a começar pelo seu.
Esta atitude
resultou na agudização da clivagem entre Estados membros credores e devedores e
entre o centro e a periferia, a par do agravamento de um sentimento de
injustiça, desconfiança, revolta e rejeição da Europa, sobretudo nos países sob
pressão. Muito por essa razão, o projeto europeu está hoje no fio da navalha.
À medida que a
situação económica e social na Europa se degradava, e que as metas do
ajustamento ficavam comprometidas, o presidente da CE delegava a responsabilidade
da concepção e acompanhamento dos programas de ajustamento em Olli Rehn, o
ultra-ortodoxo comissário finlandês e principal responsável da Troika.
Quando
as críticas começaram a crescer, Barroso defendeu-se de duas formas. Primeiro,
invocando a concordância dos governos dos países sob ajustamento com as medidas
impostas - uma "concordância" bem ilustrada pelas "negociações"
actuais com a Grécia. Depois, apontando a responsabilidade aos governos do euro:
“Todos os programas para países vulneráveis foram aprovados por unanimidade.
Foram os países que tomaram a decisão." (Jornal de Negócios, 26/05/2014).
Não
obstante, é a Troika, e dentro dela a CE - numa mal definida partilha de
responsabilidades com o Fundo Monetário Internacional (FMI) -, quem fixa as
metas de redução dos défices e aprova as medidas correspondentes. O Eurogrupo, formalmente responsável pelos programas, não
tem capacidade técnica própria de análise e tem, assim, de se apoiar na CE,
como tem sido repetidamente reconhecido pelo seu presidente, o insuspeito
ministro holandês das finanças, Jeroen Dijsselbloem.
Nem
os evidentes erros técnicos cometidos pela Troika, assumidos logo em Outubro de
2012 pelo economista chefe do FMI, Olivier Blanchard - ao reconhecer que os
efeitos da austeridade no crescimento
económico da Grécia tinham sido seriamente subestimados -, convenceram a CE a
mudar de rumo. Pelo contrário: o debate sobre os multiplicadores orçamentais
"não tem sido útil e pode afectar a confiança que conseguimos construir a
muito custo nos últimos anos", protestou Rehn em carta de 13/02/2013 aos
responsáveis da Troika.
No
plano técnico, a CE também não convenceu. Segundo o FMI, "... ao
focalizar as suas reformas mais no cumprimento das normas da UE do que no seu
impacto no crescimento, a CE não foi capaz de contribuir muito para identificar
as reformas estruturais potenciadoras de crescimento". Também "não
tinha experiência de gestão de crises" (http://www.imf.org/external/pubs/ft/scr/2013/cr13156.pdf).
Porventura a única
referência pública de Barroso aos limites da austeridade - embora sem
qualquer autocrítica - em Abril de 2013, além de absolutamente inusitada,
pareceu tardia, pouco sincera e eventualmente determinada por preocupações eleitorais
e de imagem: “Mesmo se penso que esta política é fundamentalmente correcta,
penso que atingiu os limites. Para uma política ser bem sucedida, não tem de
ser apenas correctamente desenhada, tem de ter um apoio político e social
mínimo” (Público, 23/04/2013).
É por tudo isto que,
apenas 100 dias passados desde a sua investidura, as declarações e acções de
Juncker justificam a esperança de que a CE, tão essencial à Europa que conhecíamos,
não terá afinal desaparecido para sempre: é o caso da prioridade que colocou na
redinamização do investimento, da aplicação da flexibilidade do Pacto de Estabilidade
a França e Itália ou dos esforços para retirar a Grécia do ring onde é zurzida pelos
credores, proporcionando-lhe um espaço de verdadeira negociação. Ou, ainda, do seu
reconhecimento dos erros da Troika: "Pecámos contra a
dignidade dos povos na Grécia, em Portugal e por vezes na Irlanda", afirmou
Juncker, que criticou ainda o tipo de reformas que têm sido impostas aos
Estados. "São precisas reformas estruturais que aumentem o potencial de
crescimento na Europa, mas limitarmo-nos a chamar-lhes reformas estruturais não
significa que mereçam esse nome. (...) Precisamos de definir exatamente as
reformas estrutrurais de que estamos a falar".
Para o comum dos cidadãos,
tudo isto pode ser tardio e insuficiente. Talvez seja. Mas, para quem
acompanhou de perto os dez anos da CE de Barroso, estes novos gestos são politicamente
corajosos e geradores de esperança.
(Artigo publicado no Público de 22/03/2015)
Wednesday, 18 March 2015
Pressão dos socialistas para o combate à fraude e evasão fiscal começa a dar frutos, mas é preciso ir mais longe
A proposta
apresentada esta quarta-feira pela Comissão Europeia (CE) para tornar obrigatória a
troca de informações entre os Estados membros da União Europeia (UE) sobre as
suas práticas de optimização fiscal é uma iniciativa muito positiva, mas é
preciso ir muito mais longe no combate à fraude e evasão fiscal.
É
preciso acabar com estas práticas fiscais agressivas praticadas por alguns Estados
para atrair investimento estrangeiro através de esquemas que permitem a pessoas
e empresas multinacionais pagar muitos menos impostos do que aqueles que seriam devidos
nos países onde realmente operam. Mesmo que sejam legais, estas práticas
(geralmente conhecidas por "tax rulings") são imorais e minam os
interesses dos países vizinhos.
A
iniciativa deixa-me muito satisfeita, sobretudo porque resulta em grande parte
da pressão que os socialistas exercem há anos sobre a CE para propor um sistema
centralizado e obrigatório de troca de informações sobre os acordos fiscais
especiais que vigoram em vários países da UE.
A
proposta vai a partir de agora ser analisada e votada tanto no Conselho de
Ministros da UE como no Parlamento Europeu, onde os socialistas se vão bater pelo
reforço das exigências de transparência sobre todos os acordos de optimização
fiscal, tanto os actuais como os passados que ainda estão em vigor. Também nos
vamos bater pela inclusão das pessoas singulares nesta transparência.
Apesar
deste progresso, no entanto, estou desapontada pelo facto de a CE não
ter aproveitado esta oportunidade para avançar com outras medidas que são há muito pedidas pelos socialistas: o estabelecimento de uma
definição comum europeia de paraísos fiscais e a instituição de uma lista
negra das empresas que evadem o fisco e de todos os consultores que as
aconselham e ajudam nesse processo.
A
justiça fiscal de que precisamos não é só nacional, é também internacional.
É
mais do que tempo de assegurar que os cidadãos confiam no sistema fiscal.
Friday, 13 March 2015
Acordo para interconexão energética entre Portugal e Espanha tem de ser prioridade da UE
Apesar destes dados
- fornecidos pela Comissão Europeia - as questões da energia e do clima têm
sido objecto de muita retórica e falta de sinceridade na UE: muitas das
decisões tomadas pelos seus líderes não têm sido seguidas das acções
necessárias para as concretizar.
Durante anos,
Portugal e muitos outros países do sul acreditaram na sinceridade da agenda da
União e colocaram as energias limpas - solar, eólica, hídrica, das marés - no
centro das suas opções energéticas envolvendo grandes volumes de investimento.
No entanto, quando
se trata de exportar, estes países não esbarram com uma montanha física, mas
com a montanha da falta de vontade política de alguns países, à qual não é
indiferente o peso de lobbies
poderosos, nomeadamente o nuclear.
É neste contexto que
o acordo concluído a 4 de Março, em Madrid, sob mediação do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, entre
Portugal, Espanha e França para a interconexão, até 2020, de pelo menos 10% da
sua capacidade instalada de electricidade - 11% entre Portugal e Espanha em 2016 e 15% em 2020 - e para a criação das redes
para ultrapassar esse bloqueio, constitui um
passo importante.
Só espero, agora, que
a Comissão Europeia e o Conselho de ministros da UE sejam tão exigentes no
cumprimento deste acordo como têm sido em relação a outros bem menos justos e bem
menos importantes para a Europa.
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De acordo com a
contabilidade feita pelo meu colega francês Alain Lamassoure, só nos últimos 4
anos, a energia ocupou grande parte de sete reuniões do Conselho Europeu (as
cimeiras de chefes de Estado ou de Governo da UE) com grandes efeitos de
anúncio mas poucos resultados concretos:
Fevereiro de 2011 -
Desenvolvimento do mercado europeu da energia
Junho de 2012 - Completar
o mercado europeu da energia
Maio de 2013 -
Lançamento da nova estratégia energética europeia
Dezembro de 2013 -
Relançamento da nova estratégia energética europeia
Março de 2014 - Regresso
à conclusão do mercado interno da energia
Outubro de 2014 - Novo
pacote de energia/clima
Março de 2015 -
Lançamento da união energética
Wednesday, 11 March 2015
Boas notícias para comerciantes e consumidores: taxas ligadas à utilização de cartões de crédito e de débito vão ser limitadas
O Parlamento Europeu aprovou ontem, 10 de Março, um regulamento que vai beneficiar tanto as
empresas como os cidadãos ao limitar as taxas que os bancos poderão exigir aos
comerciantes pela utilização de cartões de débito e de crédito dos seus
clientes.
http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P8-TA-2015-0048+0+DOC+XML+V0//EN&language=EN#BKMD-17
A decisão, que foi aprovada por esmagadora maioria do PE, limitará estas
taxas de "intercãmbio" em toda a União Europeia (UE) a 0,2% do valor das transacções efectuadas
com cartões de débito, e a 0,3% no caso dos cartões de crédito. Estes limites
passarão a vigorar seis meses depois da entrada em vigor do novo regulamento e
serão aplicáveis independentemente de as transacções serem nacionais ou
transfronteiriças.
Este é um passo muito importante que permitirá evitar abusos de posição
dominante. É de esperar que permita, igualmente, reduzir os custos incorridos tanto pelos comerciantes como pelos consumidores pela utilização destes
cartões.
http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P8-TA-2015-0048+0+DOC+XML+V0//EN&language=EN#BKMD-17
Mudança na agenda económica não pode ser apenas simbólica
Intervenção no debate da sessão plenária do Parlamento Europeu sobre o Semestre Europeu de governação económica
O ajustamento orçamental
europeu não funcionou. Pelo contrário: as políticas dos últimos seis anos levaram
a grandes perdas de investimento e de riqueza. O rasto de desemprego e pobreza levará
muito tempo a recuperar.
Hoje, a Europa tornou-se
no doente do mundo, com um crescimento anémico e desigualdades económicas e sociais
históricas, quer no seu interior quer entre os seus Estados membros.
Em contraste com a sua
antecessora, há que reconhecer que a actual Comissão Europeia de Jean-Claude
Juncker começa a dar sinais de reconhecer o problema e de querer avançar pistas
de solução.
São sinais positivos,
mas não chegam: a mudança na agenda não pode ser apenas simbólica. A Comissão
terá de ser bem mais competente na
gestão da governação económica no quadro do Semestre Europeu.
A Comissão tem de se
colocar ao leme dessa governação económica, da agenda da recuperação e da agenda
da convergência. As tendências dos últimos anos têm de ser urgentemente invertidas.
O ano de 2015 é neste
sentido um ano crítico. Os cidadãos têm de sentir esta mudança para retomarem a
confiança. As componentes da agenda estão na proposta da Comissão, mas o
que importa é como se põem em prática. O Grupo dos Socialistas Europeus
gostaria de ter ido mais além nas suas recomendações. No entanto, sobre cada um
dos temas, a posição que iremos votar é clara.
É importante reconhecer
a centralidade do investimento. O Fundo Juncker é um avanço positivo mas terá
de contribuir não só para relançar o crescimento mas também para corrigir as
desigualdades regionais de emprego. A selecção dos projectos beneficiários deverá
garantir um impacto positivo nas regiões mais devastadas.
Em relação às reformas
estruturais, o Parlamento recomenda uma revisão urgente do seu conteúdo e uma avaliação
cuidadosa não só do seu impacto na competitividade, efectivamente, mas também ao
nível social e do emprego.
Quanto à governação
económica, as políticas orçamentais têm de contribuir para o relançamento: os
países com margem de manobra deverão usá-la e os países em processo de
ajustamento têm de poder usar a flexibilidade prevista no Pacto de Estabilidade.
É importante proteger o investimento estratégico e manter a coesão social.
São seis anos de políticas
erradas, que estão a provocar reacções de rejeição da Europa, que é vista em
vários países como um sério problema. Há que ter consciência desta realidade e
agir antes que seja demasiado tarde.
Friday, 6 March 2015
Co-relatora da nova Comissão Especial do PE sobre práticas fiscais agressivas
O Grupo dos Socialistas e
Democratas Europeus (S&D) no Parlamento Europeu indicou-me para ser
co-relatora da nova Comissão Especial do Parlamento Europeu (PE) que vai
analisar as práticas fiscais agressivas de vários Estados membros da União
Europeia (UE).
Esta Comissão Especial - denominada TAXE - foi criada no seguimento das revelações sobre os acordos especiais que vigoram em vários países para permitir a inúmeras multinacionais pagar muito menos impostos do que os devidos nos países onde operam (incluindo os chamados "LuxLeaks").
Esta Comissão Especial - denominada TAXE - foi criada no seguimento das revelações sobre os acordos especiais que vigoram em vários países para permitir a inúmeras multinacionais pagar muito menos impostos do que os devidos nos países onde operam (incluindo os chamados "LuxLeaks").
A ideia não é fazer qualquer
caça às bruxas, mas pressionar os Governos europeus a acabar com um dumping
fiscal inaceitável entre países que
partilham o mesmo mercado e a mesma moeda.
Como é que os Governos
podem pedir cada vez mais sacrifícios aos cidadãos europeus quando ao mesmo
tempo exoneram as grandes empresas do pagamento de milhares de milhões de euros
de impostos através de esquemas que, mesmo que possam ser legais, são
profundamente imorais? É preciso restabelecer o equilíbrio entre a imoralidade e a
legalidade.
A Comissão TAXE
dispõe agora de seis meses, renováveis, para apresentar as suas conclusões, que
serão expressas no relatório que vou elaborar em conjunto com o eurodeputado
liberal alemão Michael Theurer.
Cidadãos já não aguentam viver no pesadelo da austeridade
Numa intervenção num seminário organizado
esta semana pelo Partido Socialista Europeu (PSE) voltei a defender que a zona
euro tem inverter com urgência a lógica do ajustamento económico e financeiro
que prevaleceu nos últimos anos e adoptar rapidamente políticas que atenuem as
divergências que este processo gerou entre o centro da Europa e a periferia.
Até o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já reconheceu que foram cometidos erros e que algo terá de mudar, quando disse: "Pecámos contra a dignidade dos povos na Grécia, Portugal e por vezes na Irlanda" e "precisamos de tirar as lições do passado e não repetir os mesmos erros". É um reconhecimento importante que nos conforta na decisão que tomámos de apoiar a sua eleição para presidente da Comissão Europeia.
Ao contrário dos Estados Unidos, a Europa está em risco de cair numa armadilha de estagnação persistente o que, para as economias mais frágeis, poderá significar elevado desemprego permanente, emigração massiva, explosão da dívida, aumento das divergências, agravamento da pobreza e séria instabilidade política.
A zona euro precisa de agir de forma urgente para travar estes riscos. Precisa de investimento, embora seja necessário clarificar que tipo de investimento queremos, onde e como. Também são precisos aumentos salariais - o que constitui uma responsabilidade dos Estados.
Os países do euro terão, ao mesmo tempo, de encontrar uma solução para o problema da dívida pública, que se tornou num elefante na sala. Este problema parece esquecido desde que o Banco Central Europeu anunciou, em 2012, o seu programa de compra de títulos (OMT) que acalmou a especulação sobre a dívida pública.
E é preciso, ainda, retomar a reflexão sobre a arquitectura da União Económica e Monetária europeia (UEM) para solucionar as suas lacunas respondendo, nomeadamente, a algumas questões centrais: poderá a zona euro sobreviver sem um orçamento próprio e sem uma gestão comum da dívida pública? Como atenuar as divergências actuais?
Estes são temas que têm de regressar rapidamente à agenda política europeia porque os cidadãos já não aguentam viver neste estranho pesadelo que já dura há tempo demais.
Até o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já reconheceu que foram cometidos erros e que algo terá de mudar, quando disse: "Pecámos contra a dignidade dos povos na Grécia, Portugal e por vezes na Irlanda" e "precisamos de tirar as lições do passado e não repetir os mesmos erros". É um reconhecimento importante que nos conforta na decisão que tomámos de apoiar a sua eleição para presidente da Comissão Europeia.
As divergências que se agravaram nos últimos anos tanto
no interior dos países do euro, como entre eles, é um dos problemas
centrais que a zona euro terá de enfrentar com urgência.
Uma das pistas em estudo é o plano de investimento
europeu de Juncker (315 mil milhões de euros). Só que, por causa do seu actual
formato e elevada alavancagem, este Fundo poderá ter o efeito contrário ao
pretendido e agravar, em vez de atenuar, as actuais divergências.
O problema
está em que as garantias do Fundo vão cobrir o risco de sectores de actividade
e de tipos de projectos, mas não cobrirão o risco do país. Por outras palavras:
se tiverem de escolher entre projectos de valor equivalente, os investidores
privados tenderão a investir nos países de menor risco. O que, a acontecer,
impedirá o Fundo Juncker de contribuir para a inversão das actuais tendências
divergentes.
Igualmente importante será clarificar o que se pretende
exactamente com as "reformas estruturais" das economias que são
exigidas aos países do euro. Este conceito, que foi usado e abusado nos últimos
anos, foi no essencial limitado a reformas do mercado de trabalho, a começar
pelo esmagamento dos salários, o que alimentou a recessão económica e a
deflação.
Ao contrário dos Estados Unidos, a Europa está em risco de cair numa armadilha de estagnação persistente o que, para as economias mais frágeis, poderá significar elevado desemprego permanente, emigração massiva, explosão da dívida, aumento das divergências, agravamento da pobreza e séria instabilidade política.
A zona euro precisa de agir de forma urgente para travar estes riscos. Precisa de investimento, embora seja necessário clarificar que tipo de investimento queremos, onde e como. Também são precisos aumentos salariais - o que constitui uma responsabilidade dos Estados.
Os países do euro terão, ao mesmo tempo, de encontrar uma solução para o problema da dívida pública, que se tornou num elefante na sala. Este problema parece esquecido desde que o Banco Central Europeu anunciou, em 2012, o seu programa de compra de títulos (OMT) que acalmou a especulação sobre a dívida pública.
E é preciso, ainda, retomar a reflexão sobre a arquitectura da União Económica e Monetária europeia (UEM) para solucionar as suas lacunas respondendo, nomeadamente, a algumas questões centrais: poderá a zona euro sobreviver sem um orçamento próprio e sem uma gestão comum da dívida pública? Como atenuar as divergências actuais?
Estes são temas que têm de regressar rapidamente à agenda política europeia porque os cidadãos já não aguentam viver neste estranho pesadelo que já dura há tempo demais.
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