Thursday 26 February 2015

Reunião constitutiva da nova comissão especial do PE sobre acordos fiscais especiais

A comissão especial do Parlamento Europeu para examinar os acordos fiscais especiais ("tax rulings") de países da União Europeia (UE) com empresas, da qual sou um dos membros titulares, teve hoje a sua reunião constitutiva.

A criação desta comissão foi decidida pelo PE a 12 de Fevereiro no seguimento das revelações dos acordos fiscais especiais que vigoram no Luxemburgo - mais conhecidos por "LuxLeaks".Constituída por 45 membros titulares e outros tantos suplentes, a nova comissão tem um mandato inicial de seis meses (prorrogável por decisão da conferência dos presidentes dos grupos parlamentares) para apresentar um relatório sobre as suas averiguações.

A decisão de criar esta comissão resulta do pedido insistente de muitos eurodeputados, incluindo socialistas, no sentido de lançar um processo de averiguação das práticas em vigor em vários países da UE que permitem a inúmeras grandes multinacionais fugir ao fisco nos países onde operam, lesando-os com perdas de receitas fiscais de milhares de milhões de euros

O problema da fraude e evasão fiscal é um dos temas em que a União Europeia mais tem de avançar rapidamente, porque a fuga ao fisco transforma a carga fiscal que incide sobre os cidadãos numa injustiça brutal.

Em paralelo com a nova comissão parlamentar especial, o PE já está a trabalhar num relatório de iniciativa legislativa. A ideia é pressionar a Comissão Europeia a apresentar propostas legislativas para corrigir situações de fraude e evasão fiscal que já estão há muito identificadas pelo PE, e a que o escândalo dos "LuxLeaks" apenas deu uma nova visibilidade política.


Site da  nova comissão especial: (http://www.europarl.europa.eu/committees/pt/taxe/home.html;jsessionid=33766611C7B0C0AEDA4E150909608506.node2)

Mandato:
http://www.polcms.europarl.europa.eu/cmsdata/upload/0713b125-bd39-4253-9e4c-d3869211502a/Text%20adopted%20in%20Plenary%20on%20Setting%20up%20a%20special%20committee%20%20on%20tax%20rulings%20-%20P8_TA-PROV(2015)0039.pdf

Membros:
http://www.europarl.europa.eu/committees/en/taxe/members.html

Wednesday 25 February 2015

Reformas na Grécia só terão sucesso com tempo, gradualismo e espaço orçamental

Intervenção no debate sobre o Conselho Europeu durante a sessãoplenária do Parlamento Europeu, na presença dos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk -  25/2/2015


Muito obrigada senhores presidentes.

O acordo provisório sobre a Grécia é bem vindo, mas não é o fim do processo; é apenas o início de uma nova fase e esta fase tem de ser diferente.

A Grécia está estrangulada por políticas de ajustamento que se revelaram excessiva. O seu impacto na economia, no emprego, na sociedade e na confiança foi devastador como sabiamente o senhor reconheceu, senhor Jean-Claude Juncker. Obrigada por isso.

É óbvio que na Grécia há reformas a fazer e trajectórias a corrigir. Mas só com tempo, gradualismo e espaço orçamental é que elas podem ter sucesso.

Hoje não há dúvidas: as alternativas à tese absurda da austeridade criadora existem. E é nessas alternativas que se tem de construir a nova agenda.

A tentação de utilizar o momento actual para extrair lições de moral ou fazer manifestações de poder é profundamente perigosa, não apenas para o povo grego, mas para a sobrevivência do projecto europeu.

A única lição colectiva a retirar é que as agendas têm de ser ajustadas em função dos resultados e não da força dos interesses que as suportam.

Muito obrigada.

 

Tuesday 24 February 2015

Ainda a Grécia: debate com Jeroen Dijsselbloem


Pergunta a Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, durante um debate na Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu (ECON) - 24/2/2015


Elisa Ferreira: Muito obrigada por estar connosco. Tenho duas perguntas. A primeira refere-se às respostas que deu quando a ECON o convidou para vir aqui e lhe perguntámos até que ponto o presidente do Eurogrupo controla politicamente a troika. A sua resposta então foi que, enquanto presidente do Eurogrupo não tinha funcionários suficientes ou um secretariado para poder negociar e seguir os detalhes (dos programas de ajuda externa) e que por isso confiava na avaliação da Comissão Europeia.

Na semana passada, no entanto, durante a reunião do Eurogrupo, foi reportado que a Comissão apresentou, através do comissário Pierre Moscovici, uma proposta sobre o programa grego que o ministro grego das finanças disse que poderia subscrever imediatamente, mas que foi, aparentemente, depois retirada e uma nova proposta foi posta na mesa. O que aumentou a tensão e teve custos em termos de confiança, isso foi evidente nos mercados financeiros, por causa deste longo atraso. O que é que aconteceu? Quem é que é responsável pela gestão da agenda? O que é que aconteceu à sua confiança na Comissão?

A minha segunda pergunta refere-se ao seguimento deste processo. Agora haverá negociações (sobre as reformas propostas pela Grécia). É preciso estabilizar o clima destas negociações. Até que ponto é que subscreve a frase de Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) quando disse que fará o que for preciso para que a zona euro seja preservada - e estou a citar - e a garantia de Jean-Claude Juncker de que uma saída da Grécia (do euro) não acontecerá. Está isto presente em permanência na sua agenda? E qual é o espírito para as negociações que ainda terá de conduzir no que se refere à agenda das reformas estruturais (na Grécia)? Obrigada.

Jeroen Dijsselbloem: Obrigada. Eu disse-o antes, o papel que as instituições desempenham é um papel de aconselhamento ao Eurogrupo. É verdade que o meu secretariado é muito pequeno e é impossível que faça o trabalho que o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o FMI fazem conjuntamente no contexto destes programas. Mas no fim de contas é sempre uma decisão política. Por isso sempre que as pessoas culpam a troika, eu digo que devem é culpar o Eurogrupo, porque é onde as decisões finais são tomadas, e são também os países que fornecem o dinheiro aos fundos europeus. Dito isto, referiu-se a um papel que a Comissão apresentou. Houve negociações entre a Grécia e o resto do Eurogrupo, tivemos duas reuniões, que foram necessárias para no final se chegar a uma solução que pudesse ser apoiada pelo Governo grego e pelos outros 18 ministros. Precisámos desse tempo. Olhando para trás, para essas duas semanas, foram necessárias para o Governo grego perceber qual era a posição financeira e política da Grécia. Foi necessário falar no Eurogrupo sobre como é que poderíamos, ou não poderíamo,s alterar o actual acordo, e o resultado é, penso, positivo. Por isso não vou passar muito tempo a olhar para trás sobre como é que o processo decorreu, foi necessário, foi um confronto, politicamente e também em termos de substância do programa.

Estou totalmente de acordo com Mario Draghi e com Jean-Claude de que um "Grexit" (saída da Grécia do euro) pura e simplesmente não está na mesa, não é debatido, eu nem sequer prepararei qualquer pensamento sobre isso. O meu objectivo é manter a zona euro intacta de forma mais robusta e resiliente para trabalhar juntos e manter-nos juntos. Às vezes é difícil, e vamos encontrar problemas, mas, todavia, manter-nos-emos juntos. Esta é a minha posição, este é o meu compromisso.

 

 

 

 

Zona euro aprovou lista de reformas da Grécia

A zona euro aprovou esta tarde a lista de reformas que lhe foi apresentada na segunda-feira à noite pelo Governo da Grécia. ( http://im.ft-static.com/content/images/e401fa8c-bc13-11e4-b6ec-00144feab7de.pdf )

A decisão, que foi tomada pelos ministros das finanças da zona euro por teleconferência, assegura a extensão do actual programa de ajuda externa por mais quatro meses, tal como foi acordado a 20 de Fevereiro.






Sunday 22 February 2015

"Virtudes de uma visão quase dantesca" - Artigo no Público

Opinião
Virtudes de uma visão quase dantesca
Por Elisa Ferreira
22/02/2015 - 10:51
 
Um acordo, provisório, entre a zona euro (ZE) e o novo Governo da Grécia sobre o programa de ajuda externa ao país foi finalmente alcançado, a muito custo, sem o qual estaríamos à beira de mais uma brutal convulsão na ZE e na União Europeia (UE), com consequências económicas, sociais e políticas impossíveis de antecipar.
Houve algumas virtudes no penoso processo de negociação a que assistimos: a primeira foi a de que caiu o véu que encobre o nebuloso processo de tomada de decisões europeias. A Grécia não esteve a dialogar com a Comissão Europeia, com o Conselho de ministros da UE ou com o Eurogrupo: esteve e está sobretudo a dialogar com a Alemanha.
Desde a crise internacional de 2008 que a UE se passeia na borda do abismo. Passados sete anos – com gravíssimos sinais de instabilidade nas suas fronteiras a leste e a sul, com mais desempregados do que muitos dos seus países membros têm de população, com metade das suas economias enterradas em recessão e deflação e a Alemanha a produzir os maiores excedentes de toda a sua história – nada parece alterar o estilo nem os métodos de decisão. O tom violento utilizado nos últimos dias por alguns ministros das Finanças da ZE, que chegaram a mandar o Governo grego para casa refletir melhor, é uma caricatura tão grosseira quanto chocante do que é a Europa hoje.
É suposto o Syriza ser o lado “radical” desta estranha história. Mas, ouvindo as declarações do seu ministro das Finanças Yanis Varoufakis, por um lado, e as do seu homólogo alemão Wolfgang Schäuble, por outro, ninguém diria que o radicalismo está do lado grego. De facto, após uma entrada inicial em funções reportada como de ruptura, o Governo grego baixou de tom e desdobrou-se em gestos de aproximação ao Eurogrupo, garantindo o pagamento da dívida e reformas estruturais, embora exigindo que não voltasse a ser-lhe imposta uma agenda recessiva que impedisse o país de pagar a dívida e perpetuasse a grave crise social. Radical?
Onde estiveram os governos socialistas enquanto força política alternativa? Talvez tenham sido mais activos do que pareceu, mas também pareceu que alguns dos seus ministros das Finanças não quiseram arriscar distanciar-se da Alemanha de Schäuble.
Onde estiveram, também, os países que podiam testemunhar sobre a violência e ineficácia da austeridade imposta pela troika (de credores)? É que o falhanço da troika não aconteceu só na Grécia. Em Portugal, o discurso intransigente tornou-se para o Governo a única saída possível, porque reconhecer os erros cometidos na Grécia equivaleria a ter de admitir que, também em Portugal, havia uma alternativa à receita da troika e que “ter ido para além dela” pode ter sido um grave erro. É chocante ver a ministra das Finanças a ser passeada pela Alemanha enquanto prova de que a austeridade funcionou porque o custo da dívida baixou - apesar de tal se ter ficado a dever a Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu – e que a recessão e o desemprego não contam!
Uma segunda virtude deste processo foi o regresso da Comissão Europeia às negociações, ainda não a liderá-las, é certo, mas pelo menos a enquadrá-las sem uma colagem total à Alemanha. A verdadeira agenda de compromisso estava desde o início na proposta do comissário (socialista) Pierre Moscovici, que Varoufakis aceitou subscrever, mas que foi retirada pela ZE. Segundo, porque em contraste absoluto com a Comissão Barroso, Juncker fez o mea culpa essencial ao reequilíbrio político da agenda europeia, ao abordar criticamente o método e o conteúdo das políticas impostas pela troika. Foram palavras sérias, decentes e necessárias.
Uma terceira virtude é que se tornou finalmente evidente que os problemas que a Grécia enfrenta não dizem apenas respeito aos gregos mas à totalidade da ZE, que terá de ser corresponsável pela sua resolução, da mesma forma que contribuiu para o seu agravamento. Porque o que se convencionou chamar "crise das dívidas soberanas" esteve intimamente associado a uma crise financeira (e bancária). E se a Grécia, tal como outros países periféricos, se endividou para lá do razoável, também houve bancos que concederam e promoveram agressivamente esse endividamento.
Convém aliás lembrar à opinião pública da Alemanha e dos outros países “austeritários” que parte substancial dos dois resgates gregos – 240 mil milhões de euros – serviu para reembolsar dívida contraída junto dos bancos da Europa mais a norte. Os gregos estão assim em parte a pagar o salvamento dos bancos alemães e franceses - e a integridade da ZE - por via de uma austeridade punitiva que provocou uma perda de riqueza de 25% em 5 anos, a explosão do desemprego para 25% da população activa – incluindo metade dos jovens –, o agravamento da pobreza e uma verdadeira crise social.
Apesar disso, continuamos a ouvir que os gregos não fizeram qualquer ajustamento quando, entre 2009 e 2014, passaram de um défice orçamental primário (sem os juros da dívida) superior a 10% do PIB para um excedente de 1,7% - ou seja, passaram a viver "dentro das suas possibilidades", segundo uma expressão cara aos alemães. O que é caricato, em contrapartida, é que as reformas estruturais que são agora consideradas essenciais são as mesmas que já o eram há 5 anos: que reformas estruturais impôs afinal a troika aos gregos?
O agravamento permanente da dívida pública que acompanhou a austeridade exige uma discussão séria na ZE. As soluções técnicas existem e devem ser debatidas com boa fé. A proposta grega de ligar o reembolso da dívida ao crescimento económico faz sentido e deve ser devidamente ponderada.
Uma última virtude de todo este processo é que está finalmente aberta uma brecha irreparável no monolitismo que tem imperado na agenda europeia. A Grécia conseguiu que o diálogo passe a ser feito com os pares europeus e não com os funcionários da troika; conseguiu que se deixe de falar do conceito aberrante de “austeridade expansionista”; conseguiu abalar seriamente a troika tanto em termos de credibilidade técnica como em termos de estrutura; e conseguiu ainda que discussões sobre o reembolso da dívida ou sobre o conceito de “reformas estruturais” se desenrolem “fora da caixa” em que estiveram encerradas até agora.
Terá a Comissão Juncker a força necessária para trazer agora para a agenda política europeia tudo o que falta hoje na arquitetura da ZE? Será que do sofrimento dos gregos e da visão arrepiante deste processo negocial algo de bom pode nascer para o futuro da Europa? Esperemos que sim porque este rei está tão obviamente nu que urge vesti-lo…
http://www.publico.pt/economia/noticia/virtudes-de-uma-visao-quase-dantesca-1686882

Friday 20 February 2015

"Não admito que digam que a Grécia não fez nada" - Entrevista ao Jornal de Negócios

Ampola Miraculosa: Elisa Ferreira
 
Elisa Ferrreira: "Não admito que digam que a Grécia não fez nada"
 
20 Fevereiro 2015, 10:00 por Anabela Mota Ribeiro
Há uma abordagem moralista e não uma abordagem económica do que se está a passar na Europa. Elisa Ferreira é a coordenadora do grupo socialista no Parlamento Europeu. As suas áreas de trabalho têm sido Pacto de Estabilidade e Crescimento, banca e fiscalidade. Na semana passada, em Lisboa, disse que é altura de os ministros das Finanças saírem de cena. E deixou no ar uma interrogação: a Europa pode viver sem haver nenhuma relação entre a imoralidade e a legalidade? É formada em Economia pela Universidade do Porto, doutorou-se na Universidade de Reading, no Reino Unido. Foi ministra do Ambiente e do Planeamento, entre 1995 e 2002. É deputada do Parlamento Europeu desde 2004. Nasceu em 1955.
 
Se fosse ministra das Finanças, seria solidária com Varoufakis, com os gregos? Como é que olharia para aquilo que ele tem defendido?
Olharia de uma forma diferente daquela que a imprensa reporta como ...

Wednesday 11 February 2015

Finalmente a zona euro e a Grécia estão a negociar...

Depois de vários dias de subida de tom no discurso tanto do novo Governo do Syriza, na Grécia, como dos outros países da zona euro a propósito da resolução do problema da dívida pública grega, os dois lados estão finalmente a dar sinais de que estão dispostos a procurar uma solução capaz de evitar o pior.

Os 19 ministros das finanças da zona euro, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, iniciaram ao fim da tarde uma reunião especial, em Bruxelas, para tentar definir um compromisso político sobre a forma de assegurar o financiamento da Grécia.

Se este compromisso se tornar possível, deverá ser politicamente validado amanhã, quinta-feira, pelos chefes de Estado ou de Governo da União Europeia (UE) reunidos em cimeira, também em Bruxelas.

A ser assim, uma nova reunião dos ministros das finanças dos países do euro, na segunda-feira, deverá fechar o acordo ao nível técnico.

Todas estas negociações são, pelo simples facto de existirem, uma boa notícia. Mas não chegam: é preciso que resultem num acordo adequado à gravidade da situação e que permita a todos os intervenientes salvar a face....