Monday 12 January 2015

Presidência italiana da UE quebrou 2 tabus: investimento e necessidade de conciliar a consolidação orçamental com o crescimento económico

Debate com o ministro italiano das finanças, Pier Carlo Padoan, sobre os seis meses de presidência italiana do Conselho de Ministros de Economia e Finanças da União Europeia - Comissão dos assuntos económicos e monetários do PE

Elisa Ferreira:

Muito obrigada, vou utilizar também a minha língua materna. Muitos parabéns pelo trabalho que foi feito pela presidência italiana, parabéns aos responsáveis que estão aqui hoje e parabéns a toda a equipa. Penso que houve um trabalho muito sério em condições muito difíceis e essas condições difíceis tiveram não só a ver com o facto de estarmos com novas instituições, uma nova Comissão, um novo Parlamento, mas também pelo facto de haver uma coincidência com um período muito prolongado de recessão e de desemprego que torna as decisões muito mais complexas.
Penso que a presidência italiana para além da lista de assuntos que já foram invocados quebrou dois tabus: um relativamente ao investimento e à necessidade de investimento, e outro relativamente à necessidade de reconciliar o equilíbrio das contas públicas com o crescimento económico.
Penso que se começou a dar passos nestes dois sentidos, mas a minha questão é: o trabalho não está acabado. Que peças faltam aqui para que de facto se consiga um choque positivo sobre a economia a tempo de evitarmos que toda a estrutura política e institucional europeia se desagregue?
Segunda questão relacionada com esta: está em curso uma discussão sobre uma visão mais a prazo, o relatório dos 4 presidentes, sobre o funcionamento da zona euro, que continua sem nenhuma capacidade anti-cíclica. O que é que nos pode antecipar da sua experiência sobre essa visão de futuro? Muito Obrigada.

Resposta de Pier Carlo Padoan:

Obrigada. Como já disse, são precisas duas variáveis para impulsionar, desencadear, o investimento: são precisas boas oportunidades de investimento e recursos financeiros.
Penso que o plano para o investimento que a Comissão está a apresentar tem um enorme potencial que precisa de ser usado da melhor forma. Isto, tanto em termos de mobilização de recursos financeiros para alavancagem, como também em termos de activação das oportunidades de investimento, e é aqui que vejo uma interacção positiva entre os programas de reformas nos Estados e este novo instrumento. Isto é particularmente verdade hoje em que, como lembrou, o investimento tem vindo a cair, e isto não é um fenómeno novo, tem vindo a cair desde há vários anos. Precisamos desesperadamente de investimento porque o investimento é a forma de traduzirmos oportunidades de investimento em crescimento. E isto pode ser feito tendo em mente tanto os programas nacionais como os programas europeus. Este é precisamente o espírito da nova iniciativa.
Deste ponto de vista, penso que devemos ligar de forma mais próxima - e isto é parte da operação através da qual este novo instrumento é criado - as oportunidades de investimento para aprofundar a integração. O mercado interno, que está incompleto é a grande reforma estrutural através da qual o investimento pode ser reforçado.
Precisamos por isso de perceber melhor qual é a relação entre as iniciativas do mercado interno e os programas nacionais de reforma. Isto tem possivelmente a ver com a visão de longo prazo que também mencionou.
A longo prazo acredito, e sou um grande convicto, de que a Europa poderá reforçar muito o seu potencial de crescimento com a eliminação das barreiras ainda existentes entre países, gerando uma dimensão europeia, por exemplo, em grandes infraestruturas, em capital imaterial, em capital tangível, em telecomunicações ou em inovação. Ainda podemos fazer muito para construir o que poderá ser referido como um espaço europeu de inovação.
Tudo isto exige medidas estruturais tanto ao nível europeu como nacional, e exige recursos que terão de ser direccionados, utilizados e mobilizados. Este é o momento certo para o fazer. Este é o momento para ligar os novos instrumentos financeiros às oportunidades de investimento e fazê-lo em cooperação. Por último, também temos a oportunidade de perceber melhor como é que os programas nacionais de reforma podem ter efeitos positivos nos países vizinhos e completar assim a dimensão europeia.

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