Monday 17 November 2014

Instituições da zona euro têm de se juntar para acordar uma política de relançamento do investimento

Duas perguntas feitas hoje a Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, durante um debate no quadro do "diálogo monetário" da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu (ECON):
 
Elisa FerreiraA política monetária, e em particular a taxa de juro que sempre foi o instrumento previsto para relançar a economia na moeda única, estão neste momento esgotadas, ou muito próximas do esgotamento. A questão que coloco é esta: não é a situação que neste momento se vive, com a intensidade dos desequilíbrios que neste momento os países têm, com o desemprego estrutural enorme que algumas das economias que fizeram reformas estruturais ainda estão a sentir, e com a dificuldade brutal em relançar a procura, não são estes elementos suficientemente importantes para que se faça - que se repita - aquilo que se fez em 2012, isto é, que os presidentes das principais instituições se juntem, e, porque não, ser o Banco Central, que esgotou os seus instrumentos, a convocar essa reunião, de modo a que Comissão (Europeia), Conselho (de Ministros da UE), zona euro e Parlamento (Europeu), ao seu mais alto nível de responsabilidade, acordem uma política de relançamento da economia europeia, em particular o relançamento do investimento não só a nível de alguns países mas também ao nível da zona euro ou da Europa como um todo? Parece-me que estamos a aproximar-nos de uma situação de uma gravidade suficiente para que os altos níveis da União Europeia se juntem e falem a uma só voz, porque o Banco Central tem feito muito mas penso que não pode fazer tudo.

Mario Draghi: Estou completamente de acordo. A política monetária tem feito muito, pode fazer mais, pode fazer ainda mais se as reformas estruturais forem implementadas, mas não pode fazer tudo. As reformas estruturais são o terceiro pilar deste endramento político. Mas o que é preciso além disto tudo é que a confiança regresse à economia e à zona euro. E para que a confiança regresse, o mais importante é termos uma construção política e económica que mostre ao resto do mundo que somos capazes de trabalhar juntos e avançar juntos para mais integração. Penso que este é um elemento central de confiança que não tem necessariamente a ver com dinheiro, mas com a estabilidade de longo prazo do nosso conceito, do nosso enquadramento.

Elisa Ferreira: Pode-nos informar se há evoluções relativamente à "rede de segurança" ("backstop") do fundo de resolução (dos bancos falidos ou em risco de falir) que é um compromisso político dos Estados membros e que é absolutamente essencial ao sucesso da união bancária?

Mario Draghi: Tem havido muitas alterações no sentido em que, "ceteris paribus" (todas as outras variáveis constantes), o fundo de resolução se torna menos importante. Primeiro, porque depois das avaliações aprofundadas, os bancos têm agora níveis de capital mais elevados. Segundo, porque as regras de "bail in" (que obrigam os accionistas e credores subordinados a assumir perdas em caso de reestruturação de um banco) foram profundamente alteradas de uma forma em que a capacidade de absorção de perdas por parte do sistema bancário tem sido muito reforçada. Terceiro, o fundo único de resolução existe e se a sua pergunta é saber se os 50 mil milhões (com que será dotado até 2024) serão ou não suficientes, direi que é bastante claro que houve um acordo muito explícito segundo o qual a capacidade de contrair crédito do Fundo Único de Resolução foi reforçada.

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