Thursday 10 December 2015

Schäuble atira-se a Victor Constâncio e esquece a independência do BCE - quando lhe dá jeito



Wolfgang Schäuble teve uma atitude inacreditável contra o Banco Central Europeu (BCE) pelo facto de este defender que a zona euro tem de cumprir o que prometeu criando uma garantia comum de depósitos bancários até 100.000 euros enquanto parte integrante da União Bancária.
Durante um debate público entre os ministros das finanças da União Europeia, na passada terça-feira, 8 de Dezembro, sobre, precisamente, o sistema de garantia de depósitos - a que a Alemanha se opõe terminantemente - Schäuble atirou-se a Victor Constâncio, que, enquanto vice-presidente do BCE, representava a instituição.
O episódio foi relatado pelo Financial Times, que cita o "recado" do ministro alemão ao BCE:
"Vocês provocaram-me, por isso sou muito franco"; "antes de nos darem tantos conselhos a nós, legisladores europeus, deviam ocupar-se das regras que implementámos para o BCE ... implementámos uma muralha chinesa", terá dito Schäuble que, segundo o FT, se referia às competências do BCE enquanto autoridade monetária da zona euro, por um lado, e enquanto supervisor único dos bancos, por outro 
(artigo em: https://next.ft.com/content/76a651b8-9db8-11e5-b45d-4812f209f861)
Não deixa de ser curioso que Schäuble mande às ortigas, quando lhe dá jeito, a independência do BCE face ao poder político que foi imposta contra tudo e contra todos pela Alemanha!
Schäuble esqueceu-se que o BCE, nas suas competências de supervisor único dos bancos da zona euro que assume desde Novembro de 2014, tem todo o direito de exigir aos Governos que cumpram todos os passos da União Bancária, incluindo a criação de uma garantia comum de depósitos.
Enquanto isso não acontecer, a protecção dos depósitos manter-se-à nacional, o que significa que os depositantes continuarão dependentes da capacidade financeira dos respectivos Estados. O resultado é que um depositante de um país com um orçamento apertado, como por exemplo Portugal, beneficiará de uma protecção inferir à de um depositante alemão, que pode sempre contar com a enorme margem de manobra orçamental da Alemanha.
Quebrar esta ligação entre Estados e bancos era, e é, precisamente o objectivo central da União Bancária, e o BCE não só tem o direito como a obrigação de o lembrar à Alemanha e restantes países europeus.


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