A existência em si destes
acordos não constitui uma surpresa, nem é um caso exclusivo do Luxemburgo: há
muito que as práticas de optimização fiscal agressivas de vários países são
conhecidas, incluindo na Holanda, Irlanda ou Reino Unido.
A confirmar-se, a revelação
da extensão e dos detalhes dos acordos secretos realizados pelo Luxemburgo
constitui no entanto um choque: durante anos e anos, o Luxemburgo ajudou algumas
das maiores multinacionais do mundo a criar empresas fictícias no seu
território de modo a poderem beneficiar de taxas de imposição a níveis
ridiculamente baixos, lesando sem estados de alma os parceiros europeus em
milhares de milhões de euros de receitas fiscais.
A partir destas revelações, deixa
de ser possível continuarmos a tolerar este tipo de concorrência fiscal desleal
entre países que partilham o mesmo mercado e a mesma moeda.
Como é que os Governos podem
pedir cada vez mais sacrifícios aos cidadãos europeus quando ao mesmo tempo exoneram
as grandes empresas do pagamento de milhares de milhões de euros de impostos
devidos através de esquemas que, mesmo que possam ser legais, são profundamente
imorais?
O Grupo dos Socialistas e
Democratas no Parlamento Europeu já pediu o agendamento de um debate sobre esta
questão para a sessão plenária da próxima semana.
Jean-Claude Juncker, actual
presidente da Comissão Europeia que foi o primeiro ministro do Luxemburgo
durante quase vinte anos (até ao fim de 2013), vai ter de clarificar a sua
posição sobre este passado.
Mas, acima de tudo, Juncker
vai ter de assumir a liderança do combate a estas práticas fiscais agressivas,
sem o que a sua credibilidade ficará manchada.
O presidente da Comissão
decidiu atribuir a vários dos seus comissários pelouros particularmente
sensíveis para os respectivos países de origem (nomeadamente Jonathan Hill, o
conservador inglês na regulação dos mercados financeiros; Pierre Moscovici, o
socialista francês, no controlo do Pacto de Estabilidade; Miguel Arias Cañete,
o espanhol fortemente envolvido no negócio do petróleo à frente da protecção do
ambiente) com o argumento de que teriam uma facilidade acrescida para explicar
aos seus compatriotas a necessidade de assunção de decisões e medidas difíceis
mas necessárias para o seu futuro.
Pois bem: Juncker terá agora
de assumir pessoalmente e de forma clara e determinada esta mesma lógica para
acabar de vez com os paraísos fiscais europeus, antes de mais no seu país de
origem. Só assim poderá recuperar a credibilidade pessoal e política que o seu
lugar à frente da Comissão Europeia exige.
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