Wolfgang Schäuble teve uma atitude inacreditável contra o Banco Central Europeu
(BCE) pelo facto de este defender que a zona euro tem de cumprir o que prometeu
criando uma garantia comum de depósitos bancários até 100.000 euros enquanto
parte integrante da União Bancária.
Durante um debate
público entre os ministros das finanças da União Europeia, na passada
terça-feira, 8 de Dezembro, sobre, precisamente, o sistema de garantia de
depósitos - a que a Alemanha se opõe terminantemente - Schäuble atirou-se a
Victor Constâncio, que, enquanto vice-presidente do BCE, representava a
instituição.
O episódio foi relatado
pelo Financial Times, que cita o "recado" do ministro alemão ao BCE:
"Vocês provocaram-me, por isso sou muito
franco"; "antes de nos darem tantos conselhos a nós, legisladores
europeus, deviam ocupar-se das regras que implementámos para o BCE ... implementámos
uma muralha chinesa", terá dito Schäuble que, segundo o FT, se referia
às competências do BCE enquanto autoridade monetária da zona euro, por um lado,
e enquanto supervisor único dos bancos, por outro
(artigo em: https://next.ft.com/content/76a651b8-9db8-11e5-b45d-4812f209f861)
Não deixa de ser curioso
que Schäuble mande às ortigas, quando lhe dá jeito, a independência do BCE face
ao poder político que foi imposta contra tudo e contra todos pela Alemanha!
Schäuble esqueceu-se que
o BCE, nas suas competências de supervisor único dos bancos da zona euro que
assume desde Novembro de 2014, tem todo o direito de exigir aos Governos que
cumpram todos os passos da União Bancária, incluindo a criação de uma garantia
comum de depósitos.
Enquanto isso não
acontecer, a protecção dos depósitos manter-se-à nacional, o que significa que
os depositantes continuarão dependentes da capacidade financeira dos
respectivos Estados. O resultado é que um depositante de um país com um
orçamento apertado, como por exemplo Portugal, beneficiará de uma protecção
inferir à de um depositante alemão, que pode sempre contar com a enorme margem
de manobra orçamental da Alemanha.
Quebrar esta ligação
entre Estados e bancos era, e é, precisamente o objectivo central da União
Bancária, e o BCE não só tem o direito como a obrigação de o lembrar à Alemanha
e restantes países europeus.
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